quinta-feira, 1 de março de 2007

No Boneco

Acho que isto faz tudo parte de mais uma nova manobra propagandística deste governo, engenhoso como nenhum outro o foi neste capítulo.
Do tipo: a electricidade vai subir quase 20%!!
Aflições, angústias pelo país todo, de calculadora em punho e coração na garganta.
Finalmente, a "excelente" notícia.
Este governo "benemérito" permite que "apenas" suba uns "meros" 6-7%.
Aleluia, viva o governo!
Isto vai ser parecido.
Fala-se da vergonha que é o mau atendimento nas Urgências de Évora, com carências de pessoal e de meios físicos?
Fala-se na indignidade do atendimento em corredores e em cima de cadeiras de rodas, às vezes de pé, por não haver lugar para sentar as pessoas?
Conversas íntimas à frente da populaça toda presente?
Fala-se que os enfartes agudos do miocárdio são mal tratados em Évora, não que não haja Cardiologistas suficientes, mas porque se teima em não abrir uma Unidade de Hemodinâmica que fizesse as necessárias e mais que comprovadamente vantajosas angioplastias (sabe-se isso há já mais de uma dezena de anos...), correntes nas grandes cidades do Litoral, e que melhoram em muito a mortalidade e a morbilidade dos doentes com esta patologia?
Fala-se que a Unidade de AVC (1ª causa de morte e morbilidade em Portugal) ainda está incapacitada de fazer trombólise (o melhor tratamento) por falta de aparelho de Ressonância Magnética?
Mas que estas acabam por ser feitas na mesma, só que tarde demais para a administração do tratamento, num estabelecimento privado ali ao lado (CDI) a preço de ouro, para efeitos meramente diagnósticos e não terapêuticos (onde está a poupança?)?
Fala-se na ausência de capacidade de monitorização nas enfermarias da saturação do oxigénio (um mero aparelhito que se enfia no dedo, relativamente barato...) nos doentes com insuficiência respiratória?
E de tantos outros aparelhos básicos (esfignomanómetros para medir a tensão arterial, seringas infusoras, etc...)?
Fala-se em optimizar o recurso às Urgências Centrais, sendo que bastaria para tal a obrigatoriedade do doente vir com carta do médico de família (claro que para isso seria necessário que os mesmos estivessem a trabalhar em SAP's), pagando mais em caso contrário (um preço de consulta)?
Podendo-se então (e só então), naqueles sítios, reduzir ou optimizar o pessoal, que já não teria a afluência mal encaminhada que constitui a maioria das "Urgências" dos dias que correm.
Não se fala nos casos sociais que entopem as enfermarias, doentes que não saem de lá por não terem para onde ir, sem retaguarda nenhuma (a não ser nos líricos documentos atirados não se sabe bem de onde para a comunicação social), ocupando vagas que se deveriam destinar a doentes agudos, que assim ficam prejudicados na abordagem às suas doenças que requerem tratamento urgente.
Não se fala da vergonha que é a separação física do Hospital de Évora, que obriga a que, se alguém desmaia no Patrocínio, tenha que ligar ao CODU de Lisboa a explicar a situação, que comunica aos bombeiros de Évora a necessidade de transferir o doente... para o outro lado da rua!
Ou que seja necessário chamar uma ambulância de cada vez que um doente precisa de fazer uma radiografia.
Ou que seja necessário chamar uma ambulância de cada vez que, de noite, seja necessário mandar sangue para análises no laboratório... do outro lado da rua!
Ou seja, não se fala de praticamente nada, a não ser da ameaça do fecho de alguns SAP's, em alguns casos a partir de determinadas horas.
Daqui a uns tempos, vai-se dizer que afinal não fecham todos, e que alguns até nem passam a fechar mais cedo, e todos ficam satisfeitíssimos com mais esta "vitória" para a saúde dos cidadãos portugueses.
Não se vão os anéis todos, e ficam os dedos.
O problema é que a mão está toda podre, e ninguém a trata.
A bem dizer, nem se fala sequer nela.
E é esta a grande vitória propagandística deste governo.
É a vida....

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