Lá vai, foi, barão
Em Diário Económico de hoje, por Mário Baptista:
"Saúde privatiza gestão financeira e informática
Estudo revela problemas no instituto público responsável até agora pelas contas.
Em 2003, estava o então ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, no Parlamento, a apresentar as contas da Saúde, quando um deputado do PS reparou que as parcelas não batiam certo com o total. O ministro virou-se para trás, falou com o então presidente do Instituto de Gestão Informática e Financeira, que começou, agarrado ao telefone, a refazer as contas. Depois, entregou aos deputados os documentos já corrigidos à mão, mas feridos de morte na fiabilidade dos dados apresentados.
Este é só um exemplo da falta de credibilidade de que o IGIF goza junto dos agentes do sector. Consciente deste sentimento, o ministro da Saúde encomendou à PriceWaterhouseCoopers um relatório sobre o que estava mal.
O diagnóstico, a que o Diário Económico teve acesso, é, no mínimo, desolador: o IGIF parou no tempo, não conhece a sua missão, não compara as propostas dos diferentes fornecedores, não tem pessoal suficientemente qualificado, não faz uma análise dos benefícios da sua própria actividade e, talvez pior, “existe uma estrutura informal [dentro deste organismo público] que resulta de nomeações ao nível da gestão de topo para cargos inexistentes”.
Na resposta ao relatório de diagnóstico da situação actual, a secretária de Estado da Saúde invocou as “incoerências, insuficiências e desalinhamentos graves ao nível da arquitectura dos sistemas de informação e da arquitectura orgânica que os suporta” para levantar o véu sobre as intenções do Governo.
Assim, ao Estado “competirão as actividades de regulamentação, normalização e certificação, e às entidades externas deverão ser afectas as actividades que o ‘mercado’ tende a desempenhar de forma optimizada – o desenvolvimento aplicacional, a manutenção evolutiva das aplicações, implementação e apoio, e a gestão de infra-estruturas”.
Carmen Pignatelli, numa comunicação fechada dirigida aos profissionais do sector, mas a que o DE teve acesso, vai mais longe e explica que o programa de transformação profunda dos sistemas de informação na Saúde passa por direccionar a prioridade para o utente, “através do acesso rápido e fácil às informações”.
Isto pressupõe que a “actividade operacional de prestação de serviços [tenha] a participação do sector privado”.
Manuel Teixeira à frente da Administração Central do SNS
Quando Manuel Teixeira foi convidado para ser subdirector-geral de Saúde, percebeu-se que o destino seria a presidência do IGIF, o organismo responsável pela gestão da informação e dos muitos milhões de euros do Ministério da Saúde. Este antigo secretário de Estado do Orçamento, sob a tutela de Bagão Félix no Governo de coligação entre o PSD e o CDS/PP, é um homem discreto. Diz quem o conhece bem que, “sem levantar a voz, acaba por conseguir levar a água ao seu moinho”. O ministro, aliás, hão lhe poupou elogios na hora da nomeação. No âmbito da reestruturação do Ministério, Manuel Teixeira será um verdadeiro vice-ministro, ao ficar com a presidência da Administração Central do SNS, um organismo responsável pelas atribuições actuais do IGIF, mais as relações internacionais e do planeamento estratégico.
O diagnóstico dos consultores em três pontos essenciais
1 - 96% dos dirigentes desconhece o mercado
No relatório de diagnóstico feito sobre o Instituto de Gestão Informática e Financeira do Ministério da Saúde, os consultores da PriceWaterhouseCoopers sublinham que “96% dos dirigentes não conhece as soluções de mercado em uso no sector”. Mais: os peritos afirmam que “mais grave é que 95% dos técnicos tenha um conhecimento nulo ou mínimo” sobre as aplicações informáticas. Conclusão: “tomando em consideração que a tendência do sector é a adopção de soluções de mercado, a situação é de alto risco”.
2 - Todos os dirigentes ignoram boas práticas
“A quase totalidade dos técnicos e dirigentes do IGIF não conhece as normas e padrões internacionais de informação e sistemas de tecnologias de informação”. A conclusão dos consultores contratados pelo ministro da Saúde para fazer um retrato do IGIF é quantificada: “97% dos técnicos e 100% dos dirigentes não tem conhecimento de metodologias e ‘frameworks’ de boas práticas”. Mais uma vez, a conclusão é negativa. Como “uma das funções futuras do IGIF é actuar no campo da normalização, a situação é preocupante”.
3 - 41% do pessoal só tem formação básica
“Modesto”. É como os consultores classificam os níveis de formação dos trabalhadores do IGIF afectos às funções relacionadas com os sistemas e tecnologias de informação. Segundo os dados da PWC, “cerca de 41% do pessoal só tem formação básica e 34% tem formação média (equivalente ao 12º ano). Assim, e mais uma vez, o cenário é pessimista: “o cenário para a transformação dos sistemas e tecnologias de informação é preocupante”.
Em suma, a PWC é peremptória: “na situação actual o IGIF não tem condições para cumprir as suas atribuições.”
Estudo revela problemas no instituto público responsável até agora pelas contas.
Em 2003, estava o então ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, no Parlamento, a apresentar as contas da Saúde, quando um deputado do PS reparou que as parcelas não batiam certo com o total. O ministro virou-se para trás, falou com o então presidente do Instituto de Gestão Informática e Financeira, que começou, agarrado ao telefone, a refazer as contas. Depois, entregou aos deputados os documentos já corrigidos à mão, mas feridos de morte na fiabilidade dos dados apresentados.
Este é só um exemplo da falta de credibilidade de que o IGIF goza junto dos agentes do sector. Consciente deste sentimento, o ministro da Saúde encomendou à PriceWaterhouseCoopers um relatório sobre o que estava mal.
O diagnóstico, a que o Diário Económico teve acesso, é, no mínimo, desolador: o IGIF parou no tempo, não conhece a sua missão, não compara as propostas dos diferentes fornecedores, não tem pessoal suficientemente qualificado, não faz uma análise dos benefícios da sua própria actividade e, talvez pior, “existe uma estrutura informal [dentro deste organismo público] que resulta de nomeações ao nível da gestão de topo para cargos inexistentes”.
Na resposta ao relatório de diagnóstico da situação actual, a secretária de Estado da Saúde invocou as “incoerências, insuficiências e desalinhamentos graves ao nível da arquitectura dos sistemas de informação e da arquitectura orgânica que os suporta” para levantar o véu sobre as intenções do Governo.
Assim, ao Estado “competirão as actividades de regulamentação, normalização e certificação, e às entidades externas deverão ser afectas as actividades que o ‘mercado’ tende a desempenhar de forma optimizada – o desenvolvimento aplicacional, a manutenção evolutiva das aplicações, implementação e apoio, e a gestão de infra-estruturas”.
Carmen Pignatelli, numa comunicação fechada dirigida aos profissionais do sector, mas a que o DE teve acesso, vai mais longe e explica que o programa de transformação profunda dos sistemas de informação na Saúde passa por direccionar a prioridade para o utente, “através do acesso rápido e fácil às informações”.
Isto pressupõe que a “actividade operacional de prestação de serviços [tenha] a participação do sector privado”.
Manuel Teixeira à frente da Administração Central do SNS
Quando Manuel Teixeira foi convidado para ser subdirector-geral de Saúde, percebeu-se que o destino seria a presidência do IGIF, o organismo responsável pela gestão da informação e dos muitos milhões de euros do Ministério da Saúde. Este antigo secretário de Estado do Orçamento, sob a tutela de Bagão Félix no Governo de coligação entre o PSD e o CDS/PP, é um homem discreto. Diz quem o conhece bem que, “sem levantar a voz, acaba por conseguir levar a água ao seu moinho”. O ministro, aliás, hão lhe poupou elogios na hora da nomeação. No âmbito da reestruturação do Ministério, Manuel Teixeira será um verdadeiro vice-ministro, ao ficar com a presidência da Administração Central do SNS, um organismo responsável pelas atribuições actuais do IGIF, mais as relações internacionais e do planeamento estratégico.
O diagnóstico dos consultores em três pontos essenciais
1 - 96% dos dirigentes desconhece o mercado
No relatório de diagnóstico feito sobre o Instituto de Gestão Informática e Financeira do Ministério da Saúde, os consultores da PriceWaterhouseCoopers sublinham que “96% dos dirigentes não conhece as soluções de mercado em uso no sector”. Mais: os peritos afirmam que “mais grave é que 95% dos técnicos tenha um conhecimento nulo ou mínimo” sobre as aplicações informáticas. Conclusão: “tomando em consideração que a tendência do sector é a adopção de soluções de mercado, a situação é de alto risco”.
2 - Todos os dirigentes ignoram boas práticas
“A quase totalidade dos técnicos e dirigentes do IGIF não conhece as normas e padrões internacionais de informação e sistemas de tecnologias de informação”. A conclusão dos consultores contratados pelo ministro da Saúde para fazer um retrato do IGIF é quantificada: “97% dos técnicos e 100% dos dirigentes não tem conhecimento de metodologias e ‘frameworks’ de boas práticas”. Mais uma vez, a conclusão é negativa. Como “uma das funções futuras do IGIF é actuar no campo da normalização, a situação é preocupante”.
3 - 41% do pessoal só tem formação básica
“Modesto”. É como os consultores classificam os níveis de formação dos trabalhadores do IGIF afectos às funções relacionadas com os sistemas e tecnologias de informação. Segundo os dados da PWC, “cerca de 41% do pessoal só tem formação básica e 34% tem formação média (equivalente ao 12º ano). Assim, e mais uma vez, o cenário é pessimista: “o cenário para a transformação dos sistemas e tecnologias de informação é preocupante”.
Em suma, a PWC é peremptória: “na situação actual o IGIF não tem condições para cumprir as suas atribuições.”
Não tem, mas, se já estava dicidido acabar com o IGIF, aliás, já acabou com a recente reestruturação das "dependências" do ministério da saúde, porquê gastar uma fortuna no estudo referido e realizado por PriceWaterhouseCoopers?
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